Lente de Aumento

Foi preciso uma lente poderosa

Para fotografar, de perto, estas florzinhas

E ampliá-las, depois para este livro…

São todas de bem pouca duração,

Mas vão durar, agora, certo tempo!

Senhor, nós somos todos ambiciosos,

Roídos por desejos de grandezas;

Mas existem, em nós, flores humildes

Que, às vezes, nem nós mesmos descobrimos.

Quando, no amor, na fé e na pureza,

Sabemos “ampliar” e cultivar

Os pequeninos dons que vós nos destes,

Percebemos que são flores tão belas,

Que podem emular e competir

Com orquídeas e rosas de heroísmo!

Dai – nos a graça de valorizar

Estas flores de amor, no escondimento:

Esta imensa beleza de servir,

Em pequeninos atos de bondade

Que Vossa “lente” aumenta para o céu.

Fazei que compreendamos, na alegria,

Que as flores pequeninas da virtude,

Da constância no amor e no trabalho

E da fidelidade ao dia – a – dia,

São as que mais atraem vossos olhos

E as que melhor adornam o jardim,

Este imenso jardim da eternidade.

Narciso injustiçado

 

 

Sou um Narciso, a flor injustiçada,  

Porque Narciso foi, na lenda grega,

Um belo jovem, sempre debruçado

Sobre seu próprio vulto, refletido

Na placidez das fontes e dos lagos.

Dizem que ele, depois, se transformou

Nesta flor que sou eu, assim tal qual!

Mas Vós sabeis, meu Deus, que isto é mentira,

Pois não há flor voltada pra si mesma!

A flor é um lindo frasco de perfume

Aberto para quem quiser cheirar.

Ela é um pote de mel para as abelhas

E para as multicores borboletas.

Ela oferta seu polém, pão dourado,

A todos os insetos que têm fome,

Mas homem e mulheres, meu Senhor,

Estes sim é que são muito vaidosos

E passam logo tempo a contemplar

A sua própria imagem num espelho.

Há os que vivem tão cheios de si mesmos,

Que não sobra lugar, em suas vidas,

Nem para Vós, Senhor! Nem para Vós!

Devolvo, pois, a velha lenda aos homens,

Os grandes inventores do egoísmo,

Portanto os verdadeiros narcisistas!

Responsável pela Rosa – (Aos Jovens)

 

      (Aos Jovens)

A tua vida é ainda uma terra selvagem, mas já és responsável pela Rosa!

A prece é chuva que amacia o solo em que deves plantar a tua Rosa.

Teu corpo mal chegou à primavera, mas já és responsável pela Rosa!

Evita o vício: ele é praga do corpo que, muito cedo, chega ao coração…

Teu coração

Mal chega a ser esboço de jardim, mas já és responsável pela Rosa. Vai fazendo teus planos de canteiros em que cresçam teus filhos (Tua Rosa…)

Continua regando essa terra interior

Com as águas de Deus, na Fé e na Prece.

O teu Amor mal chega a ser semente

E já és responsável pela Rosa.

Cuida bem da semente, protegendo – a

Dos pássaros do céu e dos vermes da terra:

Das ilusões vazias e dos vícios grosseiros

Para que teu Amor não morra sem nascer!

O teu Amor, agora, é já lindo botão

E, mais que nunca, és responsável pela Rosa!

Leva o botão à igreja e deixa-o lá aos pés da Mãe de Deus,

Para que teu Amor possa desabrochar sob o divino Sol dos olhos de Jesus.

A Dança dos sete véus

 

“Uma rosa é uma rosa, é uma rosa”…

E nada mais se pode acrescentar!

Nós, Homens, nos perdemos, tantas vezes,

Buscando demostrar o que é a beleza…

Pois Beleza é beleza e aí está tudo!

Se ela for totalmente desvendada

é pequena demais ou então falsa.

Deve haver sempre um “algo indefinível”

Ou última cortina de mistério,

Ou véu que ninguém possa levantar!

Deve haver sempre a última conquista

Que se adia, se adia e… não se alcança,

Para manter a chama do desejo que impulsione a ventura do Argonauta…

Quando tudo se explica e se desvenda e cai o último véu, é o fim do Amor Que perde sua graça de aventura,

quando não há mais nada a conquistar.

As rosas mais bonitas são aquelas

Que nunca desabrocham totalmente.

Guardando o centro assim… meio fechado,

Recordando seus dias de botão!

Por isso, eu acho trágico demais

Ver, hoje, estas belezas devassadas,

Escancarando as pétalas ao mundo…

É no cair dos véus que as belezas se estragam,

Como, ao nascer do sol, as estrelas se apagam!

Reflexões de uma Rosa

 

Dizem que nós, as rosas, meu Senhor

Duramos muito pouco e que as orquídeas

Permanecem viçosas por mais tempo…

Sem desprezar a orquídea, eu acredito

Que “duração” não e tão importante;

O que importa é cumprir nossa missão,

Seja de um dia ou dois ou de uma Hora!

Há um espinho morando no meu galho

Que me despreza porque duro pouco,

Enquanto ele perdura e permanece

Durante a vida toda da roseira.

Mas eu enfeito a vida e alegro os homens

Ao passo que a missão do espinho bruto

É só de ameaçar e de ferir!

Se ele quer competir em duração,

A pedra dura muito mais do que ele!

Fazei, Senhor, que os homens compreendam

Que viver é bem mais do que durar.

A existência não vale pelos anos

Que nós passamos nela; vale, sim,

Pelo bem que fazemos uns aos outros.

Por isso é que um só ato de bondade,

Um belo ato de Amor, sem egoísmo,

Pode ter densidade de um vida,

Pode ter duração de eternidade!